O Reverendo Steve Brown é pastor emérito da Igreja Presbiteriana de Greeley, no Colorado, EUA.
Tomei a liberdade de traduzir seu texto, bastante preciso e conciso, acerca da questão da homossexualidade na Bíblia. O texto original está no site do Jornal The Tribune.
Seu texto faz uma leitura bastante séria e lúcida acerca das suspostas leituras bíblicas sobre a homossexualidade.
A Igreja Presbiteriana, assim como a igreja Anglicana, não discriminam ou condenam a homossexualidade, com bons argumentos teológicos para tanto.
O problema no Brasil é que a onda “Neo-pentescostal” autoriza qualquer um, sem nenhum estudo, sem nenhuma base, a interpretar a bíblia no trecho que melhor lhe convier, abstraindo o contexto bíblico e o contexto histórico. Agem por “inspiração divina”, “profetizam”, e quanto maior o escândalo e estardalhaço que fazem, mais confirmam para seu grupo a “autênticidade” da fé que “sentem”. Como isso, fazem da Bíblia o que bem quiserem fazer, sob as mais diversas denominações religiosas. E do outro lado, o catolicismo, com sua hierarquia, fica preso à dogmas que, à toda evidência, estão ultrapassados.
Então, peço desculpas por eventuais equívocos na tradução do texto do Reverendo Steve Brown, mas fui até onde meu inglês me permitiu.
Os argumentos bíblicos sobre a homossexualidade não são claros.
O primeiro problema em discutir a questão da homossexualidade à luz da Bíblia diz respeito à linguagem e a história. “Homossexualidade” não é uma palavra que conste da Bíblia. A expressão “homossexualidade” surgiu de traduções do alemão para o inglês em meados de 1892. Qualquer estudioso do novo testamento pode notar que não existe uma expressão equivalente para “homossexual” em grego ou em hebraico. Homofobia é outra palavra nova, cunhada em 1972 cujo significado se refere ao sentimento de medo e ódio dos homossexuais.
Há uma palavra em grego “malakos” que se refere a roupas delicadas ou femininas, como em Matheus 11:8 quando Jesus pergunta, “O que você vai ver? Alguém vestido em roupas finas? Veja que aqueles que vestem roupas finas estão em palácios reais”. Uma segunda definição de “malakos” é usada para definir garotos afeminados ou homens que não pertencem a si mesmos e se deixam usar sexualmente por outros homens.
Em Coríntios 6:9 e em 1 Timóteo 1:10, a palavra grega “arsenkoites” é traduzida como “sodomitas”, dependendo da tradução bíblica que é utilizada. Aqui há uma dificuldade em saber como interpretar o que esta expressão realmente significa. Por que? Por que é a primeira vez que esta expressão foi usada em grego ou em hebraico, o que faz com que estudiosos da bíblia digam que aparentemente o apóstolo Paulo misturou duas palavras para formar a expressão “arsenkoites”. Enquanto em grego “arsen” significa “macho”, e “koites” significa “koites” significa “cama”, mas não é válido lingüisticamente dizer que a nova palavra significa homens fazendo sexo com homens.
Outro problema é que grupos contrários aos homossexuais usualmente apelam para leis naturais ou para afirmações sobre a natureza humana que são aceitas no meio religioso. Assim, o Rev. Jerry Falwell apareceu no programa “Conheça a Imprensa”, alguns anos atrás, comparando comportamento humano com o comportamento animal. Assim, ele dizia que era natural entre os animais que machos tivessem relações com fêmeas. Logo, apenas seria natural que homens se relacionassem com mulheres.
Entretanto, isto mudou quanto o Biólogo Bruce Bagemihl documentou relações homossexuais em 450 espécies do mundo animal. E seu comportamento incluía não apenas atividades sexuais, mas também o cortejar e atividades familiares.
Uma consideração adicional sobre os milhares de versos escritos em hebraico e nas escrituras cristãs, há pelo menos oito textos que compõe o que alguns pensam ser uma visão sobre a homossexualidade, nenhum destes textos é sobre Jesus, nem inclui nenhuma de suas palavra, por que ele nunca falou sobre a homossexualidade.
O tão falado pecado de Sodoma e Gomorra, em Gênesis 19:1-29 não é sobre homossexualidade. É sobre violência sexual contra homens e mulheres, brutalidade contra pessoas (e anjos?) que a comunidade deveria proteger e sobre a falta de hospitalidade. E a passagem de romanos 1:26-27, outra passagem chave do Genesis, precisa ser interpretada no contexto do Capítulo 1 em que Paulo enumera questões que dizem respeito não a homossexualidade, mas a idolatria.
Desde que nossa cultura se distanciou no tempo daquilo que Jesus ou Paulo disseram não é legítimo pegarmos uma palavra ou frase na Bíblia e batermos o martelo esperando que tudo se resolva com o discurso de autoridade de que “ Deus disse isso, E acredito, é o que está dito”. Este tipo de argumento triunfalista é sempre lançado contra a comunidade de gays, lésbicas, bissexuais ou transexuais de várias formas. É necessário parar com isso, por todos os séculos, que a comunidade GLBT viveu com o preconceito, a ridicularização, o ódio, a crueldade, ameaças, bulling e assassinatos.
Não podemos usar visões culturais dos primeiros séculos e aplica-las ás nossas afirmações atuais ou vice-versa. Robin Scroggs, professor do Novo Testamento no seminário teológico da união em Nova York, resume seus estudos bíblicos sobre homossexualidade em uma única sentença: “Julgamentos bíblicos sobre a homossexualidade não são relevantes para o debate atual”. Devemos lembrar também, que a bíblia é um produto de uma sociedade patriarcal e vê a sexualidade humana à luz da dominação masculina.