Já imaginou, a parada na Pelinca!? Bafón!
Sobre a Parada GLBT de Campos
Vocês sabem que tive meu carro arrombado, né? Pois bem. Deixei-o consertando numa oficina em Guarus. Da oficina pra casa voltei à pé, caminhando pela orla. E qual não foi minha constatação? Não, não estou falando da vista do Paraíba, misto de beleza natural com degradação antrópica. Nem da visão da São Salvador do lado de lá, espécie de caos indiano com arquitetura européia. Estou falando da própria orla, um lugar absolutamente agradável, mas totalmente degradado. Quem quiser comprovar que faça uma caminhada entre a ponte da Lapa e o exército. Calçadas esburacadas, lixo, muito lixo espalhado e, o pior de tudo, os quiosques que não estão em funcionamento viraram casas de mendigo. A sujeira e o cheiro de fezes são insuportáveis aos olhos a ao nariz. Diante deste cenário, fica a pergunta? Não seria mais sensato reformar a orla de Guarus ao invés das pracinhas da Pelinca?
Mas nem é sobre isso que desejo refletir hoje. É que voltei à orla no último domingo pra acompanhar a Parada GLBT da cidade. O trio elétrico estava animadíssimo com músicas super dançantes entremeadas pelo discurso de militantes locais. E, obviamente, as travestis lindas com seus leques enormes e suas roupas curtas, apertadas e purpurinadas. Também havia muitos casais homossexuais masculinos e femininos expressando abraços e beijinhos e carinhos sem ter medo. As Paradas são um momento de visibilidade, quando gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transgêneros e transexuais marcam sua existência e sua condição de minoria. É um evento importante em termos de lutas pelos direitos da cidadania civil e social. O que me chamou atenção na Parada, entretanto, não foi exatamente a disputa política que está em jogo. Fiquei em estado de alerta ao observar os considerados simpatizantes.
Penso ser ótimo que heterossexuais não tenham preconceitos, repudiem a homofobia e, mais que isso, tenham amigos homossexuais e freqüentem com naturalidade lugares considerados guetificados. Essa é uma simpatia que qualifico como positiva. Mas não foi exatamente essa que observei na Parada. Sim, existe uma simpatia que pode ser valorada como negativa: é aquela do olhar cínico acompanhado de um riso de superioridade. Eu a chamo de simpatia do safári, porque construída não a partir do respeito à diversidade, mas fundamentada na visão do diferente como exótico, à maneira da exposição dos animais no zoológico. E foi essa postura que constatei em muitos rostos dos que abriram as portas e janelas de suas casas pra ver a Parada passar.
Muitos homossexuais, militantes ou não, são contra as Paradas por considerarem que elas viraram verdadeiros carnavais. Ao invés de firmarem uma condição sexual e fomentarem reivindicações, as Paradas estariam alimentando a visão do esdrúxulo, do grotesco e do cômico. Por outro lado, nesse país antropofágico e debochado, a exibição poderia servir como um elemento de sedução (através da curiosidade) que levaria ao respeito, pelo menos no plano do politicamente correto. Essas são as duas faces da moeda que retratam as ambigüidades do jogo e da negociação na arena pública. Aqui não há sensatez possível, mas apenas diferentes posicionamentos.
Na verdade, o que eu gostaria mesmo de ver e acho que seria muito interessante é a Parada GLBT de Campos acontecer em plena Pelinca. Não que eu seja uma entusiasta do circo pegando fogo, mas fico aqui imaginando a simpatia maquiada na face de gente que se acha pertencente a uma elite, mas que todo dia pisa na fina camada de asfalto que encobre o esgoto sem abafar o mau cheiro. Afinal, maquiagem por maquiagem, como diz um bloco carnavalesco carioca, simpatia é quase amor.
Há vários "lados" nessa análise ruim:
ResponderExcluirA de que apenas se legitima pelo olhar do "outro", nesse caso a maioria hétero-dominante. Se há certezas consolidadas, perguntamos: faz diferença o que o outro pensa?
A análise poderia ter ido um pouco além, mas, cuidadosa e assepticamente(ou seria enrustida?), deixou de tocar em outro aspecto mais "picante": o voyeurismo de quem olha, seduzido sexualmente pela andorginia ali apresentada. Não é só a "pureza do olhar safári", é muito mais.
É nessa possibilidade de debate do olhar que ambos os lados poderiam(ou não)ampliar a aceitação um do outro.
A titia diz que enquanto houver esse "enrustimento engajado", as possibilidades permanecerão intactas.
uiiii!
Que façam isto longe da Pelinca.
ResponderExcluirEssa palhaça que traz assalto, sujeira, barulho, num dia de descanço.
Morgana, arrasaste no comentário! Mona, tu é antropóloga, socióloga filósofa ou algo assim?
ResponderExcluirAntônia, que mágoa é essa! Pode deixar, as milus não mordem e são limpinhas viu! Deixa de preconceito!
Titia é bem resolvida, só isso.
ResponderExcluirbeijocas.