6 de nov. de 2010

O bonde das sapatas ! Asho Dygno!

Deu no O Globo
Transcultura: Conheça o grupo de funkeiras lésbicas de Brasília, o SapaBonde
Deu no O Globo
Fabiano Moreira
04_MHG_Sapabonde
RIO - Tudo começou com um churrasco regado a cerveja no isopor, com uma tampa de lixo para batucar e sete lésbicas sem freios na língua. As MCs do SapaBonde, de Brasília, começaram a improvisar versos que seguem o clima sexista do funk, "baixo, pesado e proibidão", como explica a MC Luara. Se o Tigrão bota a tchutchuca na cama e dá muita pressão e a Waleska Popozuda prepara aquele chá, elas chegam logo perguntando "quantos dedos você quer?" pras "minas".
"Os decotes são bem-vindos, eu não minto pra você. Então tira logo a blusa, preu melhor te conhecer", diz um dos versos de "Não se esconde", que convida as mulheres a irem pro SapaBonde.
- Todo grupo de amigas lésbicas tem piadas como as nossas - conta a MC Carol.
Ouça o 'EP remix' do Sapabonde
Ouça o mashup de João Brasil para 'Vai, não se esconde, Jack'
O vídeo do churrasquinho virou hit no YouTube, e o sucesso na web só cresceu quando a turma do site Funk na Caixa mandou versões à capela das três músicas das moças para produtores de oito países - lançando o "EP remix" -, e o carioca João Brasil pegou as mesmas bases para misturar com Jack Johnson no seu projeto 365 mash-ups.
Sem empresário, release, fotos de divulgação (a que ilustra este texto elas só fizeram depois de muito insistirmos) ou shows marcados, o Sapa logo criou polêmica com as suas letras:
- Passamos por uma época bem tensa, umas feministas bitoladas heteronormativas começaram a tretar por causa das músicas, que são, na verdade, uma brincadeira com o estereótipo de sapatão comedora - analisa Carol.
Nas primeiras músicas, elas só "comiam", mas estão trabalhando em outras, digamos, mais versáteis.
- Ficou mal-entendido, então gravamos mais cinco músicas com o SapaBonde fazendo uma linha mais passivona. "Eu te como, tu me come, porque sexo é assim", diz uma - antecipa Carol.
- Somos funkeiras e não roqueiras mirins. Nosso esquema é funk de roda, cervejinha e mulher bonita - diz a MC Nina.
" Homem é que nem cachorro: a gente até faz um carinho, mas nunca deixa subir na cama "
E muita sapa junto não dá briga, disputa de território, pantera reagindo a tapa de pantera?
- Brigamos por quase tudo: a última cerveja do isopor, a menina mais gata da festa, quem vai ficar na janelinha do avião... - reconhece Carol.
Entre as mulheres preferidas do grupo, estão Ana Paula Arósio, Ana Paula Padrão e "a menina do 'Crepúsculo'", arremata Mari.
- A gente segue um ditado: Homem é que nem cachorro: a gente até faz um carinho, mas nunca deixa subir na cama - ensina Carol.
A MC Tava G é o terror das "agá-tês" e faz o maior sucesso entre as meninas em festas de rock. A MC Maria preferiu não aparecer nas fotos - tem família evangélica e não quer mais sua imagem vinculada ao homoerotismo. Mas não larga o SapaBonde.

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