Tire do armário: 10 luas-de-mel GLS
Turista Profissional comemora a goleada de 10 a 0 na sessão do STF que legalizou as uniões homoafetivas no Brasil
Ricardo Freire - turista.profissional@grupoestado.com.br
Verdade seja dita: a indústria do turismo sempre foi simpatizante. A existência de casais gays há muito tempo foi digerida pelo elo mais importante da cadeia, os hotéis. Quando recepcionistas perguntam se os dois rapazes ou as duas moças querem mesmo uma cama de casal, não estão repreendendo, mas apenas evitando um mal-entendido. Claro que o reconhecimento das uniões estáveis tende a deixar tudo ainda mais natural. O Turista Profissional comemora a goleada de 10 a 0 na sessão do STF que legalizou as uniões homoafetivas no Brasil tirando do armário dez viagens para lugares onde ser um casal gay é OK.
Ricardo Freire/AE
Capital holandesa, a mais simpatizante da Europa, tem parada gay fluvial, com desfile nos canais
Holanda. Foi o primeiro país a legalizar o casamento homossexual, em abril de 2001. Mas muitíssimo antes disso Amsterdã já era tida como a cidade mais simpatizante do continente - o equivalente europeu de San Francisco. A vida GLS é pulverizada pela cidade; a rua mais interessante é a Reguliersdwarsstraat, paralela aos canais Singel e Herensgracht. A parada gay é a mais bonita do mundo: é fluvial, cruzando os canais da cidade (este ano vai ser dia 6 de agosto, um sábado). O aniversário da rainha (30 de abril) também acaba virando um carnaval do arco-íris.
Espanha. Entrou para a história como a primeira nação católica a oficializar o casamento gay, em 2005. Desde o fim do franquismo os homossexuais já vinham buscando visibilidade e obtendo aceitação. Prova disso é que o tradicional reduto gay madrilenho, Chueca, acabou se tornando um bairro boêmio para todas as tribos (há um ótimo hotel no meio da muvuca, o RoomMate Oscar). Em Barcelona foi fundada a rede de hotéis Axel, que se autodenomina "hétero-friendly". No verão, Ibiza é o ponto mais animado da Europa - e para isso a participação gay é fundamental.
Portugal. O casamento foi instaurado a contragosto, no início de 2010, pelo presidente Aníbal Cavaco e Silva, que alegou a grave situação econômica nacional para não despender energia vetando a lei aprovada pelo Congresso. A cena portuguesa é bem mais discreta do que na Espanha, mas nem por isso mais tímida: o Bairro Alto, principal foco boêmio de Lisboa, sempre foi um ambiente simpatizante em que todos se misturam. Alguns lugares exclusivamente gays têm surgido no charmoso bairro vizinho do Príncipe Real. Um bom hotel nas redondezas é o novíssimo CS Vintage Lisboa.
Canadá. Enquanto nos Estados Unidos os cristãos fundamentalistas vão inscrevendo nas Constituições estaduais cláusulas que proíbem a adoção do casamento gay, no Canadá já há igualdade desde 2005. O turismo gay é incentivado com todas as letras; os mapas oficiais das metrópoles canadenses demarcam suas gay villages. A de Montreal fica na Rua Sainte-Cathérine, nas proximidades do metrô Beaudry; no verão a prefeitura transforma algumas quadras num calçadão. A de Toronto fica no entroncamento de Church e Wellesley, a poucas quadras da Bloor Avenue, a Faria Lima local.
Cidade do México. A capital mexicana aprovou o casamento homossexual no final de 2009. Meses depois, a Suprema Corte declarou os casamentos realizados no Distrito Federal válidos no país inteiro. Apesar da legislação avançada, a sociedade ainda é bastante moralista. A cena gay se concentra num ponto decadente da cidade, a Zona Rosa. É melhor curtir a noite de La Condesa, o equivalente à nossa Vila Madalena. No Pacífico, o balneário de Puerto Vallarta é o mais frequentado por gays, sobretudo americanos. A vida GLS acontece em plena Zona Romántica da cidade.
Argentina. El matrimonio gay foi legalizado em julho de 2010, precedido por uma telenovela em que o par romântico era formado por dois jogadores de futebol. O turismo gay é tão forte em Buenos Aires quanto é no Rio de Janeiro, atraindo americanos e europeus, além dos brasileiros. A cena é espalhada pela cidade, mas quem optar por San Telmo não perderá a viagem: ali ficam a sucursal portenha do hotel Axel e alguns bed & breakfasts GLS. Buenos Aires tem até uma milonga gay: a La Marshall (lamarshall.com.ar), às quartas e sextas, onde casais do mesmo sexo se alternam nos papéis de condutor e conduzido.
Uruguai. Gays e lesbianas uruguaios ainda não podem se casar, como na Argentina, mas têm direito à união civil desde 2007. Fala-se agora em estender a igualdade ao casamento. Não há nenhuma região tipicamente GLS em Montevidéu nem em Punta del Este, mas casais gays serão recebidos em todo lugar com a amabilidade que é característica do Uruguai. Um bom roteiro é chegar por Montevidéu e voltar por Buenos Aires, pernoitando uma ou duas noites no caminho, em Colonia del Sacramento ou Carmelo (onde está o lindo resort Four Seasons, com ótimos preços no inverno).
África do Sul. Depois de enterrar o apartheid, os sul-africanos aposentaram mais uma forma de discriminação no final de 2006, ao estender aos homossexuais o direito do casamento. Trata-se de uma postura ímpar entre os africanos, que normalmente são bastante conservadores neste quesito. O lugar da África do Sul mais agradável para uma lua de mel GLS é a Cidade do Cabo. O pequeno bairro do Waterkant, próximo ao Waterfront, concentra a vida noturna. No verão, os rapazes se encontram na Terceira Praia de Clifton (mas poucos se atrevem a entrar nas águas gélidas do sul do Índico).
Rio Grande do Sul. É bom lembrar que o assunto união homoafetiva chegou ao Supremo Tribunal Federal porque há alguns anos juízes do Rio Grande do Sul começaram a julgar procedentes ações interpostas por casais gays gaúchos. Se não fosse pelo Judiciário do Sul, o processo ainda levaria alguns anos. A melhor viagem para lá é na contramão: durante a semana na Serra - Gramado e a região dos vinhedos de Bento Gonçalves - e de sexta a domingo em Porto Alegre, quando os hotéis baixam sensivelmente o preço das diárias.
Rio de Janeiro. Outro Estado que ajudou a provocar a decisão do STF, graças à ação do governador Sergio Cabral para estender aos funcionários públicos gays os direitos dos servidores heterossexuais. A capital há muito convive naturalmente com sua população gay. Foi por lá que apareceram as primeiras bandeiras do arco-íris desfraldadas em um lugar de grande visibilidade: o Posto 9, em Ipanema, à esquerda da Rua Farme de Amoedo. Os turistas gays são bem vistos e bem-vindos: há até um guia gay oficial da Secretaria de Turismo disponível nas recepções dos hotéis.
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fala que eu te escuto: